sábado, 29 de janeiro de 2011

O bibliotecário e a liberdade intelectual

Ortega y Gasset compara o bibliotecário a um “filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem”. De facto, considerando o bibliotecário responsável pelo desenvolvimento de uma colecção, a frase é pertinente ilustrando bem o seu papel.
Nos nossos dias e cada vez mais, existe um sem número de publicações dos mais variados assuntos e nos mais variados suportes. Para a maioria das bibliotecas é virtualmente impossível reunir todas as edições que à partida seriam de interesse, tornando-se necessário efectuar uma selecção do material a adquirir para o acervo.
Sendo certo que as bibliotecas devem dispor de um documento com a política de desenvolvimento, cabe ao bibliotecário colocar em prática essa política, de forma isenta e intelectualmente livre. Não pode o bibliotecário operar qualquer descriminação na selecção, seja de ordem ideológica, religiosa, social ou qualquer outra. Qualquer acção que não respeite este princípio constitui “acto censório” passível de descriminar os autores cujas obras sejam rejeitadas e o público que delas fica privado. O bibliotecário deverá a todo o momento ter consciência que o desenvolvimento de uma colecção deve obedecer a critérios normativos objectivos e não a um qualquer determinado ponto de vista seu ou de terceiros.
Cabe ao bibliotecário isentar-se de juízos de valores ou influências que o levem a rejeitar qualquer obra. Igualmente não deverá promover inclusões à revelia da política de desenvolvimento, constituindo isto também um “acto censório”, porque ao preferir publicações, está a preterir outras mais adequadas.
Concluindo, em minha opinião, o bibliotecário é o garante de que a política de desenvolvimento é bem aplicada, necessitando para isso de preparação académica, de uma abrangente cultura e de sentido crítico que lhe permitam discernir o essencial do acessório, contribuindo para a construção de uma plena cidadania através do livre acesso à informação.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Geração de 70 e a Geração de Orpheu

Existem vários pontos em comum nos objectivos da geração de 70 e da geração do Orpheu e também do grupo do cenáculo. Portugal era um país isolado, atrasado no seu cristianismo hipócrita, em más práticas políticas, na literatura e nos costumes ultra-românticos e num medíocre meio cultural. De uma ou de outra forma, as personalidades que se reuniram nos grupos acima mencionados sentiram necessidade de agitar consciências e de “dar uma pedrada no charco”, naquele que, na minha opinião, ainda hoje é o fatalismo nacional. Estes movimentos culturais pretendiam criar uma nova mentalidade portuguesa, aberta aos movimentos europeus, ao modernismo e, na fase do Orpheu, essa mentalidade seria inclusivamente criadora de cultura europeia, superando o ascendente das grandes nações da Europa. Se a geração de 70 queria abrir o país e as mentalidades a um europeísmo, a geração de Orpheu aspirava a levar Portugal para a Europa, em função do que sentiam ser o universalismo nacional.
Outra diferença entre as duas gerações é o completo alheamento de Orpheu em relação à política, enquanto a geração de 70 foi marcadamente interventora ao nível social, politico, plena de sentido ético, pedagógico e reformista. A geração de 70 assumiu a necessidade de ruptura não só com o conservadorismo artístico, como também com o isolamento político, social e cultural que se vivia em Portugal. A geração de Orpheu visava uma revolução de âmbito estético-cultural. Como viria a referir mais tarde Almada Negreiros a opinião política religiosa, literária, artística, filosófica, científica era-lhes completamente alheia. Pessoa e Sá Carneiro e Almada visavam uma ruptura com o passado tentando criar de forma completamente inovadora.
Nestes dois casos raros, ou três se considerarmos o grupo do cenáculo, no universo da cultura portuguesa, o essencial é a interpelação a Portugal efectivada por estas gerações de jovens, preocupados em retirar Portugal do marasmo intelectual e da hipocrisia em que vivia. No primeiro caso, a geração de 70, a interpelação foi além dos formalismos literários, intervindo também no campo social, político e ético, abrindo as portas à Europa. Na geração de Orpheu, é o carácter universalista de Portugal que é espicaçado para se impor à Europa, mormente através da estética.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Os livros têm vida

Descobri há alguns dias um site que permite fazer trocas de livros usados. O principio é simples: por cada 10 livros disponibilizados dão-nos a oportunidade de pedir um à nossa escolha de entre os disponibilizados por outros membros. Por cada livro nosso que for enviado, podemos também pedir outro.
O que me custou foi seleccionar 10 livros de que esteja disposto a desfazer-me, mas lá consegui.
Entretanto estou ansioso por receber o livro que pedi, "A Tia Júlia e o Escrevedor", de Llosa. Para além de me ir chegar a custo zero, é um livro que traz, para além da história que o autor nos conta, a história da vida que já teve nas mãos de outros leitores.