quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Somos realmente muito estranhos

Portugal é um país estranho. Para além de grande parte do país achar que o máximo é ser espanhol, deixamos que nos espezinhem e a única coisa que nos faz reagir é o futebol.
A nossa história está recheada de gente no mínimo estranha: um rei que deu uma sova na mãe, um tipo que ficou entalado no portão de um castelo, uma padeira que tinha 6 dedos em cada mão e desancou uns tantos espanhóis, um rei que aparece nas manhãs de nevoeiro, entre muitos outros.
Também somos um povo, como disse Eduardo Lourenço, que me perdoe se não estou a ser exacto, “pobre com a mania que é rico”. Por causa desta mania parva, de vez em quando temos que nos zangar, ou seja, quando as coisas se tornam insustentáveis e só se vai lá com revoluções. Somos como aquelas pessoas que parece que não se incomodam com nada e de repente rebentam.
Em França, porque um governo se lembrou de aumentar a idade da reforma, anda tudo em pé de guerra. Na Grécia as greves sucedem-se e até já tentaram incendiar o parlamento. Em Portugal roubam-nos descaradamente e… nada. Somos realmente muito estranhos.
Andam há anos a enrolar-nos com novas oportunidades, (burros que nem portas mas todos com o 12.º ano) magalhães (sucata para entreter a miudagem) e todo o tipo de coisas como os planos tecnológicos, auto-estradas aos magotes, TGV, etc., etc.
Temos duas centrais sindicais que perante mais um pacote de austeridade, o terceiro de uma série de sabe-se lá quantos, convoca uma greve geral para quase dois meses depois. Será que o sindicalismo só serve para os sindicalistas se baldarem ao trabalho ou será que os partidos os controlam assim tão bem? Somos realmente muito estranhos.
Será que estamos quase a rebentar? Será que vamos unir-nos e dar a volta a isto? Será que vamos pôr na ordem quem anda há anos a mentir-nos?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Causas

Uma vida não tem preço. 33 vidas são certamente merecedoras de todos os esforços possíveis para que se preservem. Foi isso mesmo que o Chile nos mostrou. A preservação da vida deve ser o mais alto valor, defendido até ao extremo.
De toda esta situação ocorrida no Chile, devemos reter o imenso valor que foi dado às vidas. Em muitos outros locais do mundo não se sabe como seria…
Mas do Chile veio outro ensinamento, na minha opinião merecedor de uma análise atenta para que possa servir de exemplo a Portugal. Falo da união de um povo, de um país em torno de uma causa.
O salvamento dos mineiros teve também o mérito de nos mostrar as mais variadas demonstrações de solidariedade entre pessoas, patriotismo, alegria, emoção. Todo o Chile estava unido em torno dos mineiros, em torno de uma causa.
Não sou conhecedor da realidade chilena para saber se é ou não um país com causas. Sou contudo conhecedor o suficiente da realidade portuguesa para saber que somos um país sem causas.
Portugal é um país onde se vive só por viver. Não nos interessa muito saber para onde vamos, se vamos por um lado ou se vamos por outro.
Perante um atentado aos nossos rendimentos, o que fazemos? Nada.
O país está a dirigir-se para o abismo, o que fazemos? Nada.
Na França sucedem-se greves, na Grécia sucedem-se manifestações, por todo lado a contestação é grande. E nós o que fazemos? Nada.
Esperamos impávidos e serenos que o rumo não seja muito mau, porque dias melhores virão.
Não temos causas, não temos objectivos enquanto nação.
É urgente mudar este estado de coisas porque afinal as vidas não têm preço e uma vida sem objectivos é uma morte anunciada.