segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

André Bazin vs Christian Metz

André Bazin foi um purista do realismo, rejeitando montagens, efeitos especiais e quaisquer outros meios que no seu entender distorciam a realidade. Para Bazin, como referiu Éric Rohmer, “o que importa (…) não é, portanto, a semelhança entre o cinema e a pintura, mas as suas diferenças”, ou seja, a representação da realidade, idealmente, não deve conter distorções.
Se um pintor exprime na tela a sua visão do mundo de forma livre e pessoal, um filme, para Bazin, deve mostrar a realidade sem intrusões. A própria montagem do filme não deve ter “truques” e os cenários devem ser reais.
Para Bazin a câmara é o instrumento para captar a realidade, devendo o realizador ser quase invisível, revelando passivamente o mundo natural. Em última análise a teoria estética do realismo revela uma fé inabalável na Natureza e na sua força e beleza intrínsecas.
Como nos refere Andrew Tudor, Bazin e também Kracauer caíram no erro de rejeitar a subjectividade estética inerente ao cinema enquanto arte. Levaram a argumentação ao extremo de considerar boa qualquer produção pelo simples facto de cumprir este ou aquele pressuposto, indo com esta teoria contra a subjectividade estética.
Bazin apresenta-se assim adepto do neo-realismo italiano e das produções documentais. Nomes como Rosselini, de Sica e Visconti são o expoente máximo desta expressão estética.
Em minha opinião esta forma de análise cinematográfica apresenta-se muito redutora da magia que se espera do cinema. Os próprios teóricos desta estética ter-se-ão dado conta dos limites demasiado apertados e, como refere Andrew Tudor, terão gostado apaixonadamente de filmes que resultaram do trilhar de outros caminhos.
Em contraponto Christian Metz defende a aplicação da semiótica, possibilitando a análise científica das artes, nomeadamente o cinema. A semiótica propõe-nos a análise das linguagens do cinema. Neste contexto linguagem é diferente de língua ou de som, ou seja, cinema mudo não é sinónimo de que não possui linguagem.
Uma linguagem é um sistema semiótico de comunicação. Esta teoria transposta para o cinema revela-nos a possibilidade de analisar o que o realizador nos quer transmitir. Em sentido contrário ao realismo, que nos mostra o mundo e a comunicação é a própria imagem do mundo, neste caso o realizador, os actores, os próprios cenários têm o objectivo de nos transmitir algo.
Sob este ponto de vista teórico Christian Metz propõe-se a analisar cientificamente o cinema. A questão que se coloca nesta fase, na minha opinião, é que para apreender a mensagem seria necessário conhecer a linguagem. Ora, na minha opinião, isto não é totalmente correcto. Como qualquer forma de arte, o cinema tem o seu lado subjectivo e como sabemos, o método científico, tem alguma dificuldade em lidar com a subjectividade.
É para mim indiscutível que um realizador tem por objectivo transmitir-nos o seu ponto de vista sobre determinado tema. Considero contudo muito discutível que a mesma imagem transmita a mesma sensação a todos quantos a vêem.
Ao nível puramente teórico poderá até ser possível analisar de forma objectiva o conjunto de linguagens de um filme mas é certo que o mesmo filme poderá suscitar reacções muito diversas nos seus espectadores.
Como referi atrás, na minha opinião, espera-se magia do cinema. Se por um lado não se lhe podem impor limites como a estética realista (na sua forma purista) o faz, também o seu lado subjectivo se torna difícil de analisar cientificamente.
Na minha opinião, apesar de reconhecer que uma análise científica não será o mais adequado ao cinema, considero ser a proposta de Christian Metz a mais útil e fecunda. Baseio esta opinião no facto de a teoria estética de Bazin ser redutora em muitos aspectos. O cinema pode tomar muitas formas que não a realista, havendo também inúmeras formas de transmitir a mesma mensagem. É essa a riqueza e a magia do cinema, a sua versatilidade.  

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