terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Geração de 70 e a Geração de Orpheu

Existem vários pontos em comum nos objectivos da geração de 70 e da geração do Orpheu e também do grupo do cenáculo. Portugal era um país isolado, atrasado no seu cristianismo hipócrita, em más práticas políticas, na literatura e nos costumes ultra-românticos e num medíocre meio cultural. De uma ou de outra forma, as personalidades que se reuniram nos grupos acima mencionados sentiram necessidade de agitar consciências e de “dar uma pedrada no charco”, naquele que, na minha opinião, ainda hoje é o fatalismo nacional. Estes movimentos culturais pretendiam criar uma nova mentalidade portuguesa, aberta aos movimentos europeus, ao modernismo e, na fase do Orpheu, essa mentalidade seria inclusivamente criadora de cultura europeia, superando o ascendente das grandes nações da Europa. Se a geração de 70 queria abrir o país e as mentalidades a um europeísmo, a geração de Orpheu aspirava a levar Portugal para a Europa, em função do que sentiam ser o universalismo nacional.
Outra diferença entre as duas gerações é o completo alheamento de Orpheu em relação à política, enquanto a geração de 70 foi marcadamente interventora ao nível social, politico, plena de sentido ético, pedagógico e reformista. A geração de 70 assumiu a necessidade de ruptura não só com o conservadorismo artístico, como também com o isolamento político, social e cultural que se vivia em Portugal. A geração de Orpheu visava uma revolução de âmbito estético-cultural. Como viria a referir mais tarde Almada Negreiros a opinião política religiosa, literária, artística, filosófica, científica era-lhes completamente alheia. Pessoa e Sá Carneiro e Almada visavam uma ruptura com o passado tentando criar de forma completamente inovadora.
Nestes dois casos raros, ou três se considerarmos o grupo do cenáculo, no universo da cultura portuguesa, o essencial é a interpelação a Portugal efectivada por estas gerações de jovens, preocupados em retirar Portugal do marasmo intelectual e da hipocrisia em que vivia. No primeiro caso, a geração de 70, a interpelação foi além dos formalismos literários, intervindo também no campo social, político e ético, abrindo as portas à Europa. Na geração de Orpheu, é o carácter universalista de Portugal que é espicaçado para se impor à Europa, mormente através da estética.

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