segunda-feira, 11 de abril de 2011

Do Estado-Nação ao Estado Cultural

A “história constitui-se apenas se a olharmos e, para a olharmos, devemos estar excluídos dela”. Poderá ter sido a constatação deste facto, que Barthes nos coloca de forma simples e objectiva, que originou a consciencialização da necessidade de preservação da memória colectiva.
No séc. XVIII surge a noção de Estado-Nação.
O Estado-Nação pressupõe uma ideia de pertença a uma cultura, a um grupo coeso, a uma língua e a uma história próprias. Esta ideia provem do Iluminismo e impõe a Razão como a força constituidora do Estado. Tendo a Razão tamanha importância, é considerada fundamental a sua preservação, dado ser a Razão legitimadora do próprio Estado-Nação.
Neste contexto a memória, ou melhor, a preservação da memória surge-nos como o “combustível” e a força dos nacionalismos. O papel dos bibliotecários e arquivistas é sobrevalorizado na sua vertente da custódia, conservação e restauro, sendo esta a base da sua actividade.
Neste contexto, as bibliotecas e os arquivos constituem-se guardiões da cultura do Estado, erudita e intelectualizada, relegando de certa forma a cultura de entretenimento para um plano secundário.
O acesso à informação ganha também importância, aparecendo nesta altura modelos de classificação e indexação que permitem a consulta e o aparecimento de uma vertente menos vocacionada para a custódia e mais para a divulgação.     
O final da II Guerra Mundial trouxe, em simultâneo com o fim de formas de nacionalismo mais radicais, uma certa mudança de paradigma no que concerne à cultura. O Estado-Nação dá assim lugar ao Estado Cultural, procurando novas formas de difundir, salvaguardar e fomentar a cultura. Salienta-se aqui a criação da UNESCO a que se seguiu o Conselho Internacional dos Arquivos.
A cultura passa a ser encarada como um direito de todos, estimulando-se a educação popular e a cultura acessível a todos.
Em oposição à custódia, que pressupõe uma certa ideia de prisão, encontramos a salvaguarda, onde se denota uma certa ideia de liberdade, ainda que com preocupações de difusão.
Nesta perspectiva surgem as bibliotecas locais e regionais, na base de uma pirâmide em cujo vértice superior encontramos as bibliotecas e arquivos nacionais. Os topos das várias pirâmides nacionais, como já vimos, estão ligados e cooperam entre si.
Esta cooperação surgida com a evolução dos Estados-Nação para os Estados Culturais, alavancou progressos na partilha de informação técnica e científica. Permitiu, de igual modo uniformizar os métodos e filosofias de partilha, potenciando ainda mais a partilha e difusão de informação.
Saliento o papel actual das bibliotecas nacionais, que reúnem no seu espólio todo o património documental do país, salvaguardando a história e a herança cultural de um povo, de uma nação ou de um país. Fruto da partilha e da difusão de conhecimento, para além do património documental local, estas bibliotecas reúnem igualmente o que publica exteriormente, ou seja, reúnem a história sob duas perspectivas.    
Actualmente assistimos, na minha opinião, a uma verdadeira revolução. O aparecimento da internet constitui, ainda hoje, uma revolução a vários níveis. Com o seu aparecimento e posterior massificação, a difusão da informação tornou-se infinitamente mais rápida, acessível à grande maioria das pessoas e em maior quantidade.
Esta nova situação, sendo cheia de vantagens, apresenta também alguns perigos, nomeadamente a questão da “ditadura” da tecnologia e a questão do excesso de informação.
Em minha opinião a questão da “ditadura” da informação poderá criar clivagens entre quem possuir tecnologia e conhecimentos técnicos e quem não os possuir. Considero que informação é poder e a sua falta pode ser avassaladora para o futuro e quanto mais fácil for a sua difusão, pior será para quem não obtiver acesso a ela. 
Por outro lado os profissionais da informação são cada vez mais confrontados com informação sem valor. Actualmente e mais do que nunca, a publicação um livro, por exemplo, pode não trazer nenhuma informação nova ou útil, podendo mesmo ser pernicioso.

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