Hoje, mais do que nunca, a arte deixou
de estar confinada a locais específicos e as manifestações artísticas podem
surgir em praticamente qualquer local. O conceito de palco tornou-se muito
abrangente. As performances deixaram os palcos “tradicionais” das salas de
espetáculo e expandiram-se virtualmente por todos os locais onde o artista
sinta que pode expressar a sua arte.
Com isto, penso que os artistas também
se multiplicaram e as artes evoluíram para além das suas fronteiras mais
conservadores chegando a limites que impõem que se coloque a pergunta “o que é
a arte?”. A outra questão, “Quando há arte?”, pode efetivamente servir de
resposta à primeira questão, abrindo outras questões.
Não só por esta razão, a definição de
arte, ou melhor, a delimitação do que é arte ou obra de arte é hoje bastante
difícil e polémica.
Comecemos por distinguir duas
perspetivas de avaliação, a descritiva e a valorizativa. De certa forma estas
duas perspetivas respondem às questões colocadas anteriormente. Parece-me ser
inquestionável que uma apresentação musical será uma manifestação artística,
pelo menos no seu aspeto tentado. Contudo, se os músicos não souberem
interpretar a peça por limitações técnicas ou se não conhecerem a peça o suficiente
para realizar uma boa apresentação, julgo que não haverá arte, apenas uma
tentativa de performance artística falhada. Mais difícil será avaliar se o
músico decidir dar um cunho pessoal à peça. Pensemos, por exemplo, em uma
adaptação de uma peça clássica. O resultado será certamente polémico e muitos
não o considerarão arte.
Teoricamente não deveria ser difícil
classificar uma obra de arte dado existirem critérios objetivos que o permitem.
Apesar disto, obra de arte é, cada vez mais, um “objeto” de difícil definição
que necessita de enquadramento temporal e espacial.
O próprio conceito de arte e a teoria da
arte têm evoluído originando várias forma de entender, explicar e olhar para a
arte.
É o caso das teorias essencialistas, que
defendem que existem propriedades intrínsecas às obras de arte. Ora, de forma a
colocar em prática esta teoria seria necessário elencar essas propriedades
intrínsecas. Depressa se chegaria à conclusão que, elencando essas
propriedades, existiriam objetos comuns que poderiam ser obras de arte e obras
de arte que não apresentavam nenhuma dessas propriedades. A própria arte, neste
caso, se encarregou de votar uma teoria ao fracasso.
As teorias estético-psicológicas
procuram explicar a arte sob o ponto de vista das experiencias que provocam
tentando, a partir daí, sistematizar o conceito. Trata-se de experiências
estéticas que, contudo, envolvem variáveis de vária ordem que não permitem que
sejam isoladas e caracterizadas não sendo assim possível construir uma
definição.
De uma forma radical surgiu nos anos 50
uma teoria que se contrariava a si própria na medida em que definia a arte como
indefinível, ou seja, procurava-se agora não definir o que é arte mas sim
tentar encontrar um sentido para a arte.
As teorias da arte
desembocam, nos anos 60, nas teorias institucionais que defendem a arte como
algo que reúne uma série de aspetos que lhe conferem poder ser apreciadas por
pessoas e ser alvo do seu juízo. Neste caso, existe um mundo da arte
institucional que leva a que uma obra de um determinado autor consagrado não
seja avaliada pelas suas qualidades mas apenas por se tratar de uma obra de um
consagrado.
Apesar de toda a dificuldade e controvérsia
em torno desta temática, não considero que exista uma crise de valores.
Parece-me isso sim que sempre que existe evolução haverá quem entenda que se
está perante uma involução, uma destruição dos valores existentes ou um ataque
ao estabelecido.
Não se pode responder às questões
formuladas de forma matemática. A arte, seja qual for a forma física que
assuma, será sempre uma forma de expressão, uma visão do mundo, uma tentativa
de o transformar. A arte pode surgir até mesmo sem que o seu autor seja um
artista ou tenha intenção de fazer arte. O inverso também pode ser verdadeiro.
Resumindo, arte é uma forma de expressão
que será sujeita ao crivo da crítica e à avaliação dos espetadores.
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