segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ensaio sobre Arte


Hoje, mais do que nunca, a arte deixou de estar confinada a locais específicos e as manifestações artísticas podem surgir em praticamente qualquer local. O conceito de palco tornou-se muito abrangente. As performances deixaram os palcos “tradicionais” das salas de espetáculo e expandiram-se virtualmente por todos os locais onde o artista sinta que pode expressar a sua arte.
Com isto, penso que os artistas também se multiplicaram e as artes evoluíram para além das suas fronteiras mais conservadores chegando a limites que impõem que se coloque a pergunta “o que é a arte?”. A outra questão, “Quando há arte?”, pode efetivamente servir de resposta à primeira questão, abrindo outras questões.
Não só por esta razão, a definição de arte, ou melhor, a delimitação do que é arte ou obra de arte é hoje bastante difícil e polémica.
Comecemos por distinguir duas perspetivas de avaliação, a descritiva e a valorizativa. De certa forma estas duas perspetivas respondem às questões colocadas anteriormente. Parece-me ser inquestionável que uma apresentação musical será uma manifestação artística, pelo menos no seu aspeto tentado. Contudo, se os músicos não souberem interpretar a peça por limitações técnicas ou se não conhecerem a peça o suficiente para realizar uma boa apresentação, julgo que não haverá arte, apenas uma tentativa de performance artística falhada. Mais difícil será avaliar se o músico decidir dar um cunho pessoal à peça. Pensemos, por exemplo, em uma adaptação de uma peça clássica. O resultado será certamente polémico e muitos não o considerarão arte.
Teoricamente não deveria ser difícil classificar uma obra de arte dado existirem critérios objetivos que o permitem. Apesar disto, obra de arte é, cada vez mais, um “objeto” de difícil definição que necessita de enquadramento temporal e espacial.
O próprio conceito de arte e a teoria da arte têm evoluído originando várias forma de entender, explicar e olhar para a arte.
É o caso das teorias essencialistas, que defendem que existem propriedades intrínsecas às obras de arte. Ora, de forma a colocar em prática esta teoria seria necessário elencar essas propriedades intrínsecas. Depressa se chegaria à conclusão que, elencando essas propriedades, existiriam objetos comuns que poderiam ser obras de arte e obras de arte que não apresentavam nenhuma dessas propriedades. A própria arte, neste caso, se encarregou de votar uma teoria ao fracasso.
As teorias estético-psicológicas procuram explicar a arte sob o ponto de vista das experiencias que provocam tentando, a partir daí, sistematizar o conceito. Trata-se de experiências estéticas que, contudo, envolvem variáveis de vária ordem que não permitem que sejam isoladas e caracterizadas não sendo assim possível construir uma definição.
De uma forma radical surgiu nos anos 50 uma teoria que se contrariava a si própria na medida em que definia a arte como indefinível, ou seja, procurava-se agora não definir o que é arte mas sim tentar encontrar um sentido para a arte.
As teorias da arte desembocam, nos anos 60, nas teorias institucionais que defendem a arte como algo que reúne uma série de aspetos que lhe conferem poder ser apreciadas por pessoas e ser alvo do seu juízo. Neste caso, existe um mundo da arte institucional que leva a que uma obra de um determinado autor consagrado não seja avaliada pelas suas qualidades mas apenas por se tratar de uma obra de um consagrado.          
Apesar de toda a dificuldade e controvérsia em torno desta temática, não considero que exista uma crise de valores. Parece-me isso sim que sempre que existe evolução haverá quem entenda que se está perante uma involução, uma destruição dos valores existentes ou um ataque ao estabelecido.
Não se pode responder às questões formuladas de forma matemática. A arte, seja qual for a forma física que assuma, será sempre uma forma de expressão, uma visão do mundo, uma tentativa de o transformar. A arte pode surgir até mesmo sem que o seu autor seja um artista ou tenha intenção de fazer arte. O inverso também pode ser verdadeiro.
Resumindo, arte é uma forma de expressão que será sujeita ao crivo da crítica e à avaliação dos espetadores.  

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